#“Sem nome; sem técnica; sem dimensão”

12/03/2011 às 12:18 | Publicado em Pílulas | Deixe um comentário
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O perfeccionismo tem, dentre as suas diversas manifestações, um pé assentado no universo das artes. Descuidado, pode afrontar até mesmo a sua magia. A técnica necessária para se expressar,  considerada válida somente pelo viés da perfeição, logo se torna viciada, impaciente e vazia. E antes de tudo a arte não é viciada ou impaciente, já que há nela muito de entrega; tampouco vazia, dada a sua capacidade de redimensionar e preencher vidas.

Notável e louvável seja a geração criativa juvenil deste ínicio de século, em que o espaço para a expressão humana passou a ser considerado fundamental na busca incessante de respostas às três perguntas básicas: Quem somos? De onde viemos? E pra onde vamos?. Se hoje qualquer um se sente capaz de se manifestar artisticamente, é natural que aqueles que sempre fizeram da arte também um meio de sustento venham a protestar; para eles a arte ainda é obra de inspiração concedida pelo divino espírito santo.

Aconteceu de essas técnicas se difundirem e possibilitarem a manifestação de segmentos cada vez mais expressivos. Na música, por exemplo, sempre havia alguém falando pela juventude, até mesmo no ápice do rock´n roll lá estavam as rédeas bem cuidadas da indústria que se formou a partir dele. Se não falava pela juventude, escondia dela o que de mais puro havia na produção artística daquele tempo.

Foi nessa rede mundial, percebida como distribuidora de conhecimento, que a juventude encontrou tanto as técnicas necessárias para se expressar, como também passou a ter acesso a produção dos tempos correntes e passados – ainda que o tempo seja um só. É preciso ter consciência do processo que se inicia, saborear o seu frescor e lançar-se ao seu precipício de entrega: pra saber que a perfeição técnica é só um desvio do caminho iluminado da arte.

 

( texto para pintura de Txhelo, em:  www.fotolog.com/pontoelinha )

Confissões Profissionais

15/02/2011 às 18:50 | Publicado em Pílulas | Deixe um comentário
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A primeira vez que eu contei para alguém sobre a minha escolha profissional eu estava no intervalo do colégio. A nova sede do Anchieta tinha sido inaugurada a pouco tempo e era bem comum encontrar pais em visitação. Me deparei com uma senhora jovial na espera da cantina que lançou a pertinente pergunta:

– E você já sabe o que vai fazer no vestibular ¿

– Comunicação – retruquei já ensaiando a confiança de uma resposta que tantas vezes teria de repetir.

Ela explicou então que era professora de uma faculdade nesta mesma área e que o grande problema dos alunos deste curso era preguiça: “eles tem um ótimo potencial, mas até saírem da inércia leva um tempo…”.

Como todo aluno, eu não me considerava preguiçoso e até hoje acredito que cabia mesmo a escola buscar se adequar ao ritmo menos industrial que a minha juventude era capaz de produzir ( a fecundação do que seria a geração Y). Se para burlar as aulas eu sempre estive em busca de um bom motivo, é porque gostava de estar em ação e não estático, inerte.

Deu que apesar de ter passado em comunicação nos primeiros vestibulares eu fui fazer direito até hoje não sei bem o por quê. E agora, já formado em comunicação, reconheço em parte a tese da jovial professora: até chegar a monografia – trabalho que abracei como causa pessoal – todas as outras atividades da faculdade optei por considerar meros exercícios presos a redoma profissional. A preguiça surgia no momento em que não conseguia relacionar essas atividades com as minhas buscas pessoais de conhecimento.

Daí que fiquei com essa formação diferenciada, conciliando o feijão com arroz dos procedimentos acadêmicos com as faltas bem justificadas para viver as bandas, os shows, os quadrinhos, os blogs, as passeatas e tudo mais que despertasse essa aproximação entre a comunicação e a vida real. Entendendo o conselho daquela senhora com quem primeiramente compartilhei a minha escolha profissional, porque neste meu primeiro trabalho depois de formado é que pude conhecer de perto as capacidades mágicas da nossa força de vontade, seja lá qual for a profissão exercida.

Clube das Esquinas

28/01/2011 às 15:30 | Publicado em Pílulas | Deixe um comentário
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Nutro simpatias pelas pequenas transgressões: pelo imenso repertório de ações culturalmente constituídas que o engessamento das estruturas sociais não consegue acompanhar. Sou adepto de todas pequenas fugas de órbita que nos levem a ampliar a visão dos procedimentos e considerar que a grande riqueza da vida é mesmo a diversidade. Todos eles gestos simples, ainda não codificados, mas com um poder de transmissão eficiente. Como caminhar pelo asfalto da avenida só pra lembrar aos motoristas dos carros que há outras formas de locomoção menos espaçosas e estressantes. Mudanças de rota, que quando vividas e praticadas, são capazes de nos levar a outra buscas para além do ideal de conforto e velocidade que rege a civilização. Passos que nos levam de um lado a outro da rua e já não seremos mais os mesmos.

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